quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cineclube da Hora

                               

"Se me apaixonei por cinema, foi pelo que senti ao ver certos filmes na tela grande, mas também pelo fato de que não senti aquela emoção sozinho.Ou seja, também me encantei pelo aspecto coletivo do cinema.Poder dividir toda uma gama de sensações suscitadas por um bom filme com outros espectadores é um privilégio que só o cinema pode oferecer(...)"

STRECKER, Marcos. Na estrada:o cinema de Walter Salles.São Paulo;Publifolha,2010.





Monitores do Projeto Cineclube nas escolas: Luiza A. Oliveira, Gabriella A. V. Brito e Elizabeth da S. de Oliveira.
Porta da sala de vídeo E. M. Aníbal Freire, 04/07/2012


Finalmente conseguimos dar a partida no trabalho cineclubista na escola! Some-se a isso a generosidade dos alunos do oitavo ano que desde o primeiro momento estiveram presentes.
De uma aula inaugural abrindo o ano letivo de 2011 até começarem as sessões, levou tempo! E que tempo!
Tempo de encontrar colegas de outras escolas que já desenvolviam o projeto; tempo de buscar aproximação daqueles mais experientes na área; tempo de procurar os cursos pertinentes ao cineclubismo; tempo de ver que o tempo poderia levar-nos para essa magia das imagens em movimento, tão bem colocada pelo cineasta argentino Fernando Solanas:

(...) “A arte cinematográfica nasce antes de mais nada do silêncio e da escuridão de uma grande sala, da alegria de saber partilhar com outras pessoas um espetáculo ininterrupto na grande tela. É um momento de comunicação coletiva e estética”(...).
LABAKI, Amir e CEREGHINO, Mario J. Solanas por Solanas - um cineasta na América Latina. São Paulo: Iluminuras, 1993.
Tomando emprestadas ainda as palavras da professora Rosália Duarte, da PUC-RJ,
(...) Em sociedades audiovisuais como a nossa, o domínio dessa linguagem é requisito fundamental para se transitar bem pelos diferentes campos sociais.
E o que isso tem a ver com Educação?
(...) Se pensarmos a educação como um processo de socialização, esse tema torna-se bastante relevante para nós. (...)
DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

           O tema tornou-se tão relevante que passamos de comum acordo com os alunos interessados, a direção da escola, a coordenação pedagógica e dividindo também com a professora da sala de leitura, a fazer encontros semanais, as sexta feiras, no contra turno dos alunos.
De início, eram cerca de nove alunos, até que um grupo fixo de seis começou a se configurar como aquele disposto a tocar o barco. Eram os nossos monitores por excelência e por vontade própria. O acervo de filmes que chegou à escola foi saudado por todos, ansiosos que estávamos para dar a largada para uma ação com os outros alunos.
Para a escolha do filme a ser exibido, o grupo de monitores se posicionou no sentido de analisar pelas sinopses o que poderíamos apresentar, não sem antes verificarmos também a duração do filme. Depois, a exibição preparatória que antecedia aquela planejada para os outros alunos. Foi nesse momento que entraram em cena as estagiárias que chegaram à escola e que prontamente tornaram-se aliadas para o desenvolvimento do cineclube.
O filme “O contador de histórias”, direção de Luiz Villaça, foi o escolhido para uma primeira sessão experimental, ao lado de dois curtas feitos pelos alunos do Núcleo de Arte Grécia , “O pequeno cordel do sapato voador”, selecionado para um festival em Portugal, e “Um lugar chamado Quitungo”, apresentando a história do lugar, um antigo quilombo, ambos do DVD “Alma Suburbana”, direção de Luiz Claudio Lima, Joana D’Arc, Leonardo Oliveira e Hugo Labanca, distribuído pela Secretaria Municipal de Educação para as escolas municipais em 2011.
O filme apresenta a trajetória de um menino de Minas Gerais, ex- interno da FEBEM que se descobre na vida a partir do encontro com uma pesquisadora francesa em visita ao Brasil. Roberto Carlos Ramos, o jovem retratado no filme, é hoje um contador de histórias celebrado mundialmente. Passados vários encontros, quando nos perguntávamos que nome teria o cineclube, um dos monitores insistia em chamá-lo de Cineclube Histórias, porque sempre que nos reuníamos para escolher os filmes, tínhamos uma nova história a ser contada.
A escolha do nome do cineclube foi tratada de início como uma possibilidade de ser discutida pelos alunos monitores ou entre os alunos da escola. O grupo definiu que deveria ser tirado entre o grupo à frente do projeto, e ficamos de ir pesquisando possíveis nomes.
As histórias das atividades cineclubistas da Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro (ASCINE-RJ) trouxeram à baila nomes de diferentes cineclubes como Beco do Rato; Sua escola no cineclube, Mate com Angu, Subúrbio em Transe, Cineclube sem tela, Rabiola, Tela Brasillis, Cineclube Brasil, entre tantos outros, chamando atenção do grupo sobre a escolha do nome, que deveria levar em conta a criatividade.
Mais sessões foram programadas, incluindo a iniciativa de convidar alunos do contra turno, não sem antes comunicar aos responsáveis da atividade extraclasse. Assim fizemos sessões com alguns dos filmes do projeto, sabendo que uma vez o filme estreado no cineclube, imediatamente seria disponibilizado para uso dos outros professores.
Fato marcante foi a exibição de dois filmes feitos pelos alunos da E.M. Almirante Tamandaré, no Vidigal: ”A dor da perda” e “Nada é para sempre”. O grupo presente no dia da sessão não era grande, no entanto, soube muito bem deslanchar um debate muito interessante sobre as temáticas abordadas: gravidez na adolescência e amizade interrompida. Na hora da avaliação, quando os alunos recebem fotogramas impressos para darem suas opiniões por escrito, vimos muitos desenhos representando diferentes planos de um dos filmes. Juntos, esses fotogramas passaram a fazer parte de um mural apresentando o projeto Cineclube nas escolas, na porta da sala de vídeo.

Ainda que não tenhamos todas as condições técnicas adequadas, acreditamos que esse projeto traz um diferencial para o nosso trabalho. Quando nos deparamos com essa nova condição de lidar com o conhecimento, que passa pela discussão entre professores e alunos de critérios para exibição, replanejamento, respeito a opiniões diferentes, percebemos aí uma possibilidade de transformação do nosso cotidiano escolar. Como nos disse um dos alunos monitores: ”A sexta feira de manhã é o meu melhor dia da semana na escola!” E olha que esse aluno vem para a escola no horário da manhã para o trabalho cineclubista, aguardando o segundo turno para as aulas.


Vocês, Gabriel A. Marinho, Gabriella A.V. Brito Marcelle M. Paiva, Luiza A. Oliveira, Migue Pache, Elizabeth da S. de Oliveira, Camila Mendes, Melissa Brito já fazem parte desse filme.
Em meio às discussões sobre o nome e o logotipo, “Cineclube da hora” foi o escolhido pelo grupo para batizar o nosso trabalho com cinema na escola.
A hora é essa!





Monitores do projeto Cineclube nas escolas: Gabriella A. V. Brito, Miguel Pache, Gabriel A. Marinho e Marcelle M. Paiva, sala de vídeo, 14/09/2012.



“O Cineclube para mim é uma atividade que tenho o maior orgulho de fazer”. É uma das melhores atividades que eu faço no contra turno. Ela despertou muito interesse em aprender cinema. Desde o começo, eu tive vontade de ver filmes só para perceber o que eu aprendi nas sessões.
O nome Cineclube da Hora foi escolhido por meio de sugestões. Esta sugestão foi escolhida porque é um nome que dá a ideia de uma atividade muito descontraída. “Cineclube da hora” é um nome que as pessoas param e pensam: “Por que este nome foi escolhido?”.
                                                                                 Depoimento de Gabriel A. Marinho.


“No inicio de tudo, eu achava que era mais uma atividade que eu faria, só para passar filmes para distrair. Na primeira aula eu vi que era totalmente diferente, eu vi que era mais do que eu esperava... era o que eu precisava... Ao passar do tempo vi que eu queria mesmo isso.
Todas as nossas diversões, todas as nossas conversas para decidir o nome do grupo, fizeram bem pra mim... No Cineclube eu posso colocar minhas opiniões, lá é um dos muitos lugares que eu posso expressar minha opinião. “E eu agora achei o que eu realmente quero fazer”
                                                                       Depoimento de Gabriella A. V. Brito


“O cineclube já faz parte da minha vida, sabe? Já acostumei a toda sexta-feira estar aqui na escola com os meus colegas e professora, fazer cineclube é muito bom! A gente conversa sobre os filmes e etc...”.
Hoje posso dizer: Cineclube é a minha vida!"
                                                                           Depoimento de Marcelle M. Paiva


“Sexta-feira. acordo animado para vir para a escola, encontrar meus amigos, discutir sobre filmes e escolhê-los para apresentá-los aos nossos colegas de outras turmas. Às vezes acontecem alguns problemas com nossos equipamentos, mas resolvemos em um minuto.
É emocionante receber aplausos depois de todo nosso esforço e saber que valeu a pena fazer tudo aquilo com meus amigos. A sensação é única.
Aos meus amigos Gabriel Marinho, Marcelle Paiva, Gabriella Brito, Luiza Arantes e Elisabeth Silva, agradeço a vocês pelo esforço e peço força para que possamos continuar assim."
                                                                               Depoimento de Miguel Pache

“Fazer cineclube para mim é muito bom. Eu adoro fazer parte desse projeto, é muito divertido. Eu acho que esse projeto tem que ter em todas as escolas do Rio de Janeiro. Eu gosto muito de cinema. Cineclube para mim é demais.”
                                                          Depoimento de Elizabeth da S. de Oliveira


“Pra mim o cineclube representa muita coisa. Primeiro ele representa o trabalho em equipe, segundo, a confiança que temos uns nos outros. Além do mais, temos um respeito enorme um pelos outros e eu também aprendi muita coisa nesse projeto e o que eu aprendi vou levar para a vida toda.”
                                                                          Depoimento de Luiza A. de Oliveira

         " Participar do Cineclube nas Escolas foi algo totalmente surpreendente para mim. Pois de certa forma é algo além das minhas funções na escola. Mesmo assim, foi um projeto que eu não neguei participar, principalmente por causa da minha paixão por cinema. Mesmo não sendo uma conhecedora profunda, esse universo sempre me encantou e fazer parte de algo assim que trabalha levando o cinema para outras pessoas me cativou de primeira. Sei que peguei o barco andando, pois o projeto já estava instalado na escola um bom tempo antes da minha chegada. Entretanto não meço esforços para ajudar no que for preciso para que o Cineclube da Hora conquiste muito mais pessoas! Me apaixonei também pela equipe organizadora, tantos os monitores que sempre estão dispostos quanto pela professora, uma cinéfila adorável que só quer compartilhar o seu amor pela sétima arte com todas as crianças, adolescentes e adultos que puder encontrar."
Depoimento de Camila Mendes- estagiária da E.M. Aníbal Freire e amiga da galera do Cineclube da Hora. 






Alunos e professora Patrícia Almeida do projeto Fórmula da Vitória, em sessão experimental do projeto Cineclube nas escolas, sala de vídeo, 18/06/2012.


25|9|2012
Sonia Maria da Silva Maciel

Professora articuladora do Projeto Cineclube nas escolas da E.M. Aníbal Freire